sábado, 8 de março de 2008

A filha do vento, cigana, espanhola, dançarina, bióloga, psi-qui-trata e o que mais vier, de Cambuci rj Brasil para o mundo, sobre-vivente-sobre São Fifa, avisa, no poema de Elisa Lucinda: - cuidado com a lua que menstrua e com o vento que sopra a nuvem que esconde a lua e pode, por dias, para sempre, encobri-la.

Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com esta gente que menstrua...

Imagine uma cachoeira às avessas:

cada ato que faz, o corpo confessa.
Cuidado, moço às vezes parece erva, parece hera
cuidado com essa gente que gera

essa gente que se metamorfoseia

metade legível, metade sereia.
Barriga cresce, explode humanidades

e ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar

mas é outro lugar, aí é que está:

cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita.

Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente

que vai cair no mesmo planeta panela.

Cuidado com cada letra que manda pra ela!

Tá acostumada a viver por dentro,

transforma fato em elemento
a tudo refoga, ferve, frita

ainda sangra tudo no próximo mês.

Cuidado moço, quando cê pensa que escapou
é que chegou a sua vez!

Porque sou muito sua amiga

é que tô falando na "vera"
conheço cada uma, além de ser uma delas.
Você que saiu da fresta dela
delicada força quando voltar a ela.

Não vá sem ser convidado

ou sem os devidos cortejos.

Às vezes pela ponte de um beijo
já se alcança a "cidade secreta"

a Atlântida perdida.
Outras vezes várias metidas e mais se afasta dela.

Cuidado, moço, por você ter uma cobra entre as pernas
cai na condição de ser displicente
diante da própria serpente.
Ela é uma cobra de avental
.
Não despreze a meditação doméstica
.
É da poeira do cotidiano
que a mulher extrai filosofando

cozinhando, costurando e você chega com a mão no bolso

julgando a arte do almoço: Eca!...
Você que não sabe onde está sua cueca?

Ah, meu cão desejado
tão preocupado em rosnar, ladrar e latir

então esquece de morder devagar
esquece de saber curtir, dividir.
E aí quando quer agredir
chama de vaca e galinha.
São duas dignas vizinhas do mundo daqui!
O que você tem pra falar de vaca?
O que você tem eu vou dizer e não se queixe:

VACA é sua mãe. De leite.
Vaca e galinha...
ora, não ofende.
Enaltece, elogia:

comparando rainha com rainha

óvulo, ovo e leite
pensando que está agredindo

que tá falando palavrão imundo.
Tá, não, homem.

Tá citando o princípio do mundo!


Elisa Lucinda - 1998 -

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